Para o observador distante, é muito estranho que Brasília apresente episódios graves de corrupção como os recentemente revelados.
Esperava-se que um eleitorado mais informado e educado, próximo dos poderes centrais, estivesse melhor aparelhado para escolher adequadamente os seus governantes.
Esperava-se, ainda, que o governo central tivesse um olhar mais próximo da gestão distrital. Afinal, os brasileiros – por meio do governo federal - sustentam parte expressiva dos gastos do GDF.
No entanto, não é difícil entender o que se passou. Brasília sofre de sete graves pragas que permitem a ocorrência continuada de episódios como o ora conhecido como Mensalão do DF.
A primeira praga é a desinformação. Por mais paradoxal que seja, Brasília é uma cidade muito mal informado sobre a política local. A televisão aberta cobre pouco e mal o que se passa nos bastidores da política. Apenas por conta da gravidade do ocorrido, deu o devido destaque.
Outro problema está na dependência financeira dos veículos locais das verbas do GDF. Tema muito delicado. Obviamente, dependendo das verbas do governo local para sobreviver, o noticiário tende a ser superficial e omisso.
A segunda praga é o corporativismo. Muito da relação entre a sociedade e o governo local se dá em torno de agendas corporativistas que, nem sempre, privilegiam o interesse público.
Não há efetiva cobrança da sociedade para que o governo local funcione melhor ou de forma mais transparente. Muitas das reivindicações referem-se a salários e benefícios, e não ao comportamento republicano do governo. Ou, pior, a conquista do poder por meio de alianças e agendas com corporações.
A terceira praga é a opacidade. A relação do GDF com os seus fornecedores é pouco clara e nebulosa. Como o GDF quase sempre controla a Câmara Distrital e o Tribunal de Contas local e, ainda, tem a imprensa quase sempre omissa ou complacente, a operação do governo é quase um segredo de estado.
A quarta praga é o desinteresse. Boa parte da elite se relaciona com GDF como se relaciona com a administração de um condomínio. Como vivem em torno da esfera federal de Brasília, o governo local é um episódio menor e, até mesmo, suburbano.
A quinta praga é o clientelismo. A autonomia política do Distrito Federal deu vazão a uma enorme força clientelística que se alimentava com a distribuição de lotes e de outros benefícios que criaram estruturas políticas poderosas.
Todos os atores envolvidos no escândalo do Mensalão do DF têm origem nessas estruturas políticas e se mantém eleitoralmente competitivos por meio do acesso e distribuição de benefícios da estrutura pública.
A sexta praga é ausência de debate ideológico. As forças políticas de Brasília se orientam, naturalmente, pela busca do poder. No entanto, tal busca não é amparado em um debate ideológico ou programático.
Daí as coalizões serem possíveis ainda que os rótulos partidários indiquem antagonismos incontornáveis. O que explica, por exemplo, a participação do PSB e do PPS no governo Arruda? É fácil, a busca pelo poder.
A sétima praga é o desequilíbrio institucional. No DF, como em todas as unidades da federação e no poder central, o Poder Executivo predomina sobre os demais.
Não há uma situação de equilíbrio e, portanto, o GDF assume uma situação de predominância sobre todos os demais poderes em detrimento do interesse da sociedade e do fortalecimento da democracia.
Enfim, estamos, ainda, na pré-história da política. O episódio do Mensalão no DF está estruturalmente ligado as sete pragas que assolam a política nacional.
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