Aécio Neves reuniu-se reservadamente, em Belo Horizonte, com dois caciques da oposição –um do PSDB e outro do DEM.
A conversa ocorreu há seis dias, no Palácio da Liberdade, sede do governo mineiro. Girou em torno da sucessão de Lula.
Os interlocutores de Aécio perguntaram se a recusa dele em aceitar a posição de vice na chapa de José Serra era uma decisão irrevogável.
O governador mineiro respondeu afirmativamente. Vice de Serra não será. De jeito nenhum. Ponto. Aécio foi, então, confrontado com uma segunda pergunta.
Reassumiria a candidatura presidencial em caso de desistência de Serra? A resposta foi, de novo, afirmativa. Sim, voltaria à disputa.
Aécio esclareceu: tendo se retirado do ringue nacional, não seria adequado que sua volta resultasse de qualquer tipo de maquinação contra Serra.
Porém, havendo uma desistência formal do governador tucano de São Paulo, Aécio não se constrangeria em medir forças com Dilma Rousseff.
O diálogo travado em Minas, por revelador, ilumina a encruzilhada a que chegaram os adversários de Lula e Dilma.
Em teoria, a oposição continua dispondo de dois presidenciáveis potenciais. Na prática, não dispões de nenhum candidato.
O impasse tem nome: José Serra. Entre quatro paredes, ele se diz candidato. Mas recusa-se a antecipar o anúncio formal da candidatura.
A demora de Serra, antes vista como estratégia de político experiente, agora é tomada pelos seus próprios aliados como temosia.
Uma birra que, confrontada com o crescimento de Dilma nas pesquisas, passou a ser interpretada como hesitação.
O incômodo, antes restrito ao DEM, espraiou-se também pelo tucanato. Em privado, o próprio presidente do PSDB, Sérgio Guerra, diz estar com Serra pela tampa.
No início da semana passada, Guerra dissera que, antes do sábado, Serra já freqüentaria o noticiário com uma cara de candidato irreversível.
Os fatos o desmentiram. Sempre passou por Brasília e Belo Horizonte. Espremido pelos repórteres sobre a sucessão, recorreu à desconversa.
Em privado, oposicionistas que sempre defenderam a opção por Serra encontram-se à beira de um ataque de nervos.
Um exemplo: líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN) disse privadamente a Sérgio Guerra que a situação chegara a um limite.
Longe dos holofotes, Agripino ponderou a Guerra que Serra tem de levar a candidatura à vitrine ainda nesta semana.
Sob pena de a oposição flertar com o imponderável. Sérgio Guerra pôs-se inteiramente de acordo. Disse que voltaria a Serra.
O diabo é que, a despeito da impaciência que o cerca, Serra não parece minimamente disposto a ceder aos apelos antecipatórios.
Na semana passada, no mesmo dia em que Aécio admitia voltar à disputa em caso de desistência do rival, Serra trocou um telefonema com Jarbas Vasconcelos.
Dissidente do PMDB, Jarbas estivera com Serra, em São Paulo, há dois meses. Ouviu dele um apelo para que aceitasse disputar o governo de Pernambuco.
Desde então, Jarbas condiciona a montagem de um palanque pernambucano para a oposição ao calendário de Serra.
Incomodado com a demora, tocou o telefone para o amigo. Para tranquilizá-lo, Serra disse que continuava candidato.
Lero vai, lero vem Serra queixou-se dos que cobram dele a antecipação do calendário. Mencionou o grão-tucano Tasso Jereissati (CE).
Depois, em entrevista ao Globo, o próprio Jarbas ecoaria Tasso. Disse que passa da hora de Serra retirar a candidatura do armário.
No curso da conversa telefônica, Jarbas pedira a Serra um encontro pessoal. Combinou-se que ocorreria no início desta semana.
Jarbas se dispôs a voar para São Paulo. Serra aquiesceu. E ficou de ligar de volta, marcando dia e hora. Veio o final de semana. E nada.
Chegou a segunda-feira. E, até a noite passada, um Jarbas cada vez mais impaciente continuava esperando o telefonema do amigo.
Além de facilitar a vida de Dilma, em ascensão nas pesquisas, a demora de Serra paralisa todos os movimentos da oposição.
O PT já providencia o aluguel de um comitê para Dilma. E quanto ao PSDB? O blog ouviu um dirigente tucano. Disse o seguinte:
“As pessoas que têm juízo, não podem deixar de buscar alternativas para essa questão [logística]. Mas, enquanto não tiver o candidato, não podemos avançar”.
A paralisia alcança também a seara política. Vive-se em São Paulo um drama. As pesquisas apontam o tucano Geraldo Alckmin como favorito à sucessão de Serra.
Mas o partido vê-se como que manietado. Presidente do diretório paulista do PSDB, o deputado Mendes Thame resume a encrenca:
“Definir agora a candidatura do Geraldo é como dizer que o Serra, mesmo que queira sair candidato à reeleição em São Paulo, não vai ter essa chance”.
No final do ano passado, alheio às pressões, Serra evocara Lupcínio Rodrigues. Dissera ter “nervos de aço”.
O diabo é que os nervos de Lula parecem feitos de elástico. Enquanto Serra impõe aos aliados a pasmaceira do samba-canção, o presidente faz Dilma dançar no ritmo frenético do frevo.
- Siga o blog no twitter.
Escrito por Josias de Souza às 05h48
A conversa ocorreu há seis dias, no Palácio da Liberdade, sede do governo mineiro. Girou em torno da sucessão de Lula.
Os interlocutores de Aécio perguntaram se a recusa dele em aceitar a posição de vice na chapa de José Serra era uma decisão irrevogável.
O governador mineiro respondeu afirmativamente. Vice de Serra não será. De jeito nenhum. Ponto. Aécio foi, então, confrontado com uma segunda pergunta.
Reassumiria a candidatura presidencial em caso de desistência de Serra? A resposta foi, de novo, afirmativa. Sim, voltaria à disputa.
Aécio esclareceu: tendo se retirado do ringue nacional, não seria adequado que sua volta resultasse de qualquer tipo de maquinação contra Serra.
Porém, havendo uma desistência formal do governador tucano de São Paulo, Aécio não se constrangeria em medir forças com Dilma Rousseff.
O diálogo travado em Minas, por revelador, ilumina a encruzilhada a que chegaram os adversários de Lula e Dilma.
Em teoria, a oposição continua dispondo de dois presidenciáveis potenciais. Na prática, não dispões de nenhum candidato.
O impasse tem nome: José Serra. Entre quatro paredes, ele se diz candidato. Mas recusa-se a antecipar o anúncio formal da candidatura.
A demora de Serra, antes vista como estratégia de político experiente, agora é tomada pelos seus próprios aliados como temosia.
Uma birra que, confrontada com o crescimento de Dilma nas pesquisas, passou a ser interpretada como hesitação.
O incômodo, antes restrito ao DEM, espraiou-se também pelo tucanato. Em privado, o próprio presidente do PSDB, Sérgio Guerra, diz estar com Serra pela tampa.
No início da semana passada, Guerra dissera que, antes do sábado, Serra já freqüentaria o noticiário com uma cara de candidato irreversível.
Os fatos o desmentiram. Sempre passou por Brasília e Belo Horizonte. Espremido pelos repórteres sobre a sucessão, recorreu à desconversa.
Em privado, oposicionistas que sempre defenderam a opção por Serra encontram-se à beira de um ataque de nervos.
Um exemplo: líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN) disse privadamente a Sérgio Guerra que a situação chegara a um limite.
Longe dos holofotes, Agripino ponderou a Guerra que Serra tem de levar a candidatura à vitrine ainda nesta semana.
Sob pena de a oposição flertar com o imponderável. Sérgio Guerra pôs-se inteiramente de acordo. Disse que voltaria a Serra.
O diabo é que, a despeito da impaciência que o cerca, Serra não parece minimamente disposto a ceder aos apelos antecipatórios.
Na semana passada, no mesmo dia em que Aécio admitia voltar à disputa em caso de desistência do rival, Serra trocou um telefonema com Jarbas Vasconcelos.
Dissidente do PMDB, Jarbas estivera com Serra, em São Paulo, há dois meses. Ouviu dele um apelo para que aceitasse disputar o governo de Pernambuco.
Desde então, Jarbas condiciona a montagem de um palanque pernambucano para a oposição ao calendário de Serra.
Incomodado com a demora, tocou o telefone para o amigo. Para tranquilizá-lo, Serra disse que continuava candidato.
Lero vai, lero vem Serra queixou-se dos que cobram dele a antecipação do calendário. Mencionou o grão-tucano Tasso Jereissati (CE).
Depois, em entrevista ao Globo, o próprio Jarbas ecoaria Tasso. Disse que passa da hora de Serra retirar a candidatura do armário.
No curso da conversa telefônica, Jarbas pedira a Serra um encontro pessoal. Combinou-se que ocorreria no início desta semana.
Jarbas se dispôs a voar para São Paulo. Serra aquiesceu. E ficou de ligar de volta, marcando dia e hora. Veio o final de semana. E nada.
Chegou a segunda-feira. E, até a noite passada, um Jarbas cada vez mais impaciente continuava esperando o telefonema do amigo.
Além de facilitar a vida de Dilma, em ascensão nas pesquisas, a demora de Serra paralisa todos os movimentos da oposição.
O PT já providencia o aluguel de um comitê para Dilma. E quanto ao PSDB? O blog ouviu um dirigente tucano. Disse o seguinte:
“As pessoas que têm juízo, não podem deixar de buscar alternativas para essa questão [logística]. Mas, enquanto não tiver o candidato, não podemos avançar”.
A paralisia alcança também a seara política. Vive-se em São Paulo um drama. As pesquisas apontam o tucano Geraldo Alckmin como favorito à sucessão de Serra.
Mas o partido vê-se como que manietado. Presidente do diretório paulista do PSDB, o deputado Mendes Thame resume a encrenca:
“Definir agora a candidatura do Geraldo é como dizer que o Serra, mesmo que queira sair candidato à reeleição em São Paulo, não vai ter essa chance”.
No final do ano passado, alheio às pressões, Serra evocara Lupcínio Rodrigues. Dissera ter “nervos de aço”.
O diabo é que os nervos de Lula parecem feitos de elástico. Enquanto Serra impõe aos aliados a pasmaceira do samba-canção, o presidente faz Dilma dançar no ritmo frenético do frevo.
- Siga o blog no twitter.
Escrito por Josias de Souza às 05h48
Nenhum comentário:
Postar um comentário