Domingo, dia 31 de outubro, foi dia de festa para a democracia do país. E, especialmente, um dia de eleição presidencial diferente de todas as outras eleições presidenciais. Elegeu-se, afinal, a primeira mulher presidente do Brasil: Dilma Rousseff.
Nem por isso, a população feminina brasileira correu para ocupar praças e ruas, por este Brasil adentro e afora, a fim de comemorar a conquista histórica. Maturidade ou indiferença? Teria o mulherio votante ultrapassado definitivamente a fase da afirmação de gênero? Ou colaborado para o resultado nas urnas no velho esquema de obediência patriarcal?
Se o voto na mulher-Lula representou apenas eleger a criatura submissa ao criador, a louvação de sua vitória eleitoral não ultrapassou o festejo partidário. Qual? O de ter conseguido eleger uma "guerreira" de fidelidade canina para a "missão" de tocar o projeto de país lulista; até ele voltar.
Em nenhuma hora ela foi apresentada ou considerada por seus correligionários como uma grande líder. Como, normalmente, conviria à pretensão de elegê-la ao cargo máximo da nação.
Porém, no primeiro discurso de presidente eleita, pareceu-me que a mulher-Lula se despedia. Livre dos marqueteiros e do criador (que a deixou à vontade naquele dia), deu para enxergar outra Dilma. Estava serena. Sem se contaminar pela euforia e se deixando emocionar apenas por um instante, quando falou de Lula.
Ou melhor, deu para enxergar a mulher com identidade própria: menina criada na classe média alta mineira, com pai búlgaro e mãe brasileira. Que na juventude tornou-se guerrilheira contra a ditadura militar, destacando-se por sua formação intelectual acima da maioria dos militantes da facção VAR Palmares. Foi torturada. Entre outros e outras.
Entretanto, Dilma Rousseff é uma pessoa de sorte. Quem mais recebeu a presidência da República de mão beijada por ordem e mérito de um padrinho? Nem Dutra. Resta saber qual será o seu comportamento daqui por diante. Em seu discurso de domingo, ela agradeceu a Lula e assumiu a meta de erradicar a miséria nos próximos anos, pedindo "humildemente" o apoio de todos os que possam ajudar o país a superar o "abismo que ainda nos separa de ser uma nação desenvolvida".
Neste ponto, não dá para passar por cima ou esquecer a importância da candidatura de Marina Silva no primeiro turno. A noção de democracia estava sendo desrespeitada pela campanha petista, que se apresentava como a dona do destino das famílias brasileiras; condutora do pensamento dos cidadãos, dos caminhos do país e daí por diante. Eram os radicais petistas contra qualquer oposição; qualquer uma era inimiga ferrenha a ser exterminada.
Os marineiros neutralizaram esse tamanho absurdo levando a competição para o segundo turno. Essa história já se conhece bem. No momento a outra candidata mulher, derrotada, se dispõe a contribuir com o governo da candidata vencedora. Mas de forma programática. E desde que não comprometa sua postura de independência... Lógico.
No final de tudo, como diz Marina, o que está valendo é o seguinte: a ministra Dilma era a candidata de uma parte dos brasileiros; a partir de agora, durante os próximos quatro anos, é a presidente de todos nós. Então... Boa sorte, presidente Dilma! De verdade.
Escrito por Ateneia Feijó jornalista
Nem por isso, a população feminina brasileira correu para ocupar praças e ruas, por este Brasil adentro e afora, a fim de comemorar a conquista histórica. Maturidade ou indiferença? Teria o mulherio votante ultrapassado definitivamente a fase da afirmação de gênero? Ou colaborado para o resultado nas urnas no velho esquema de obediência patriarcal?
Se o voto na mulher-Lula representou apenas eleger a criatura submissa ao criador, a louvação de sua vitória eleitoral não ultrapassou o festejo partidário. Qual? O de ter conseguido eleger uma "guerreira" de fidelidade canina para a "missão" de tocar o projeto de país lulista; até ele voltar.
Em nenhuma hora ela foi apresentada ou considerada por seus correligionários como uma grande líder. Como, normalmente, conviria à pretensão de elegê-la ao cargo máximo da nação.
Porém, no primeiro discurso de presidente eleita, pareceu-me que a mulher-Lula se despedia. Livre dos marqueteiros e do criador (que a deixou à vontade naquele dia), deu para enxergar outra Dilma. Estava serena. Sem se contaminar pela euforia e se deixando emocionar apenas por um instante, quando falou de Lula.
Ou melhor, deu para enxergar a mulher com identidade própria: menina criada na classe média alta mineira, com pai búlgaro e mãe brasileira. Que na juventude tornou-se guerrilheira contra a ditadura militar, destacando-se por sua formação intelectual acima da maioria dos militantes da facção VAR Palmares. Foi torturada. Entre outros e outras.
Entretanto, Dilma Rousseff é uma pessoa de sorte. Quem mais recebeu a presidência da República de mão beijada por ordem e mérito de um padrinho? Nem Dutra. Resta saber qual será o seu comportamento daqui por diante. Em seu discurso de domingo, ela agradeceu a Lula e assumiu a meta de erradicar a miséria nos próximos anos, pedindo "humildemente" o apoio de todos os que possam ajudar o país a superar o "abismo que ainda nos separa de ser uma nação desenvolvida".
Neste ponto, não dá para passar por cima ou esquecer a importância da candidatura de Marina Silva no primeiro turno. A noção de democracia estava sendo desrespeitada pela campanha petista, que se apresentava como a dona do destino das famílias brasileiras; condutora do pensamento dos cidadãos, dos caminhos do país e daí por diante. Eram os radicais petistas contra qualquer oposição; qualquer uma era inimiga ferrenha a ser exterminada.
Os marineiros neutralizaram esse tamanho absurdo levando a competição para o segundo turno. Essa história já se conhece bem. No momento a outra candidata mulher, derrotada, se dispõe a contribuir com o governo da candidata vencedora. Mas de forma programática. E desde que não comprometa sua postura de independência... Lógico.
No final de tudo, como diz Marina, o que está valendo é o seguinte: a ministra Dilma era a candidata de uma parte dos brasileiros; a partir de agora, durante os próximos quatro anos, é a presidente de todos nós. Então... Boa sorte, presidente Dilma! De verdade.
Escrito por Ateneia Feijó jornalista
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